segunda-feira, maio 15, 2006

Uma Sociedade em Beta permanente …

A passagem de uma sociedade de mão de obra intensiva para uma sociedade de conhecimento intensivo é um processo complexo que é diferente de complicado. O complexo é gerível ao passo que o complicado é como o próprio nome – condenado a não lucidez e por isso definhou desde a sua génese.

Estamos no meio de um processo de transformação societal de dimensões gigantescas, e só através de políticas activas de dinamização da inteligência colectiva, seremos capazes de lidar melhor com a incerteza resultante de todos os emergentes (novas tecnologias, novas metodologias, novos ideiais, ...) .

Se nada fizermos para promover a noção colectiva de inteligência, não tenho dúvida que a sociedade de informação será fortemente exclusiva, e as consequências serão dramáticas para o ser humano e todas as sociedades por si desenvolvidas.

Não basta lançar buzzwords, mas é claro que é muitas vezes através delas que as pessoas se predispõe a reflectir sobre novas formas de compreensão da situação actual, e se projectam em cenários de realização futura.

Cabe dizer que a sociedade da informação, não vale a pena negá-lo, é uma sociedade exigente, em matéria de utilização da ferramenta mais importante do homo-sapiens : o cérebro.

A vida e o trabalho do século XXI apresentam-se como um paradoxo aparente : uma vida cada vez mais conduzida por actividades de consumo e um trabalho que exige cada vez mais do cérebro, ou seja o homo sapiens sujeito a um número de comutações entre o lado esquerdo (racional) e o lado direito (sentimental) para a qual os actuais sistemas de educação e formação não preparam os cidadãos.

Efectivamente a praxis produtiva actual de Inovação Rotinizada e Obsolescência Tecnológica rapida desenvolve um novo paradigma : de uma sociedade estáctica e de componentes previsíveis para uma sociedade altamente dinâmica a viver permanentemente em versão Beta.

Mas como participar ? Como desenvolver uma Arquitectura de Participação ?

Na ausência de políticas top-down estratégicas em matéria de utilidade da SI, para as pessoas, as empresas e as instituições cabe a cada um a responsabilidade de se integrar em redes de inteligência colectiva, única forma de lidar com a complexidade de todo o processo, mas para isso, não vale a pena pensar que nos integramos só porque utilizamos é preciso saber como transformar utilização em utilidade.

A Rede : da utilização à utilidade

Os processos de transformação da utilização para a utilidade na actual sociedade da informação não podem ser desligados, sob pena de nos iludirmos a nós mesmos, do momento particular de evolução do capitalismo de consumo.

Para efeitos de disseminação de conceitos e práticas da actual sociedade da informação é preciso conhecer os trade-offs que conduzem aos novos processos de acumulação e consequente distribuição da riqueza.

A este propósito, vale a pena recordar aqui de forma tabular alguns «saltos» que paulatinamente vêm a determinar o momento actual e o futuro da Rede, e recuperar a dicotomia modernismo vs pós-modernismo que normalmente ajuda a acumular conhecimento sobre os processos de transformação e a perceber os novos paradigmas .

Modernismo

Pós - Modernismo

Form (Closed)

Antiform (Open)

Purpose

Play

Design

Chance

Hierarchy

Anarchy

Finished

Process / Performance / Happening

Distance

Participation

Genre

Intertextuality

Selection

Combination

Lisible (readerly)

Scriptable (wtiterly)

Determinacy

Indeterminacy

Etc.

Etc.

Fonte : Hassan , “The Culture of Postmodernism”, Theory, Culture , and Society, 1985)

Diria que estão em causa a aquisição / endogeneização de novos conhecimentos, novas competências e novas aptitudes, mas também, e não menos importante a construção de novos valores, novas crenças e novas pesonalidades. O desafio é imensamente complexo e só será realizado com sucesso através do domínio e integração em redes de inteligência colectiva por parte das pessoas, das empresas e das instituições.

O século XXI não pode ser construido com base nas permissas de base industrial estáctica que prevaleceram em todo o século XX. Um século inclusivo e solidário exige a mobilização da inteligência colectiva como forma de expressar o potencial do homo-sapiens para a construção de uma sociedade que olha para o trabalho como um elemento organizador e estabilizador da vida em rede.

A utilidade, seja sob a forma material ou imaterial é o output das ferramentas que suportam a sociedade da informação, no sentido de organizador social mas onde cada ser humano conta, onde cada organização é um pólo de indução de melhores práticas para o todo, e onde a ética, a responsabilidade social e solidária se assumem como meta-valores de uma sociedade em busca permanente de razão.

Francisco Pires